EDP conclui primeira etapa de reestruturação societária

Sábado 28, Fevereiro 2004
Objetivo do grupo no País é abrir o capital da nova holding EDP Brasil. O grupo português EDP concluiu a primeira etapa do processo de reestruturação societária dos seus ativos no Brasil. Foram incluídas na holding EDP Brasil as duas últimas controladas que faltavam dentro da nova estrutura organizacional do grupo: as distribuidoras Enersul (MS) e Escelsa (ES). Já faziam parte da holding a distribuidora Bandeirante (SP) e as usinas de Lajeado, Fafen e Peixe Angical. Apenas a Cerj (RJ) ficou fora da nova estrutura do grupo, já que a EDP tenta vender sua participação minoritária para a espanhola Endesa. As empresas da EDP no Brasil representam 30% dos negócios do grupo português.O objetivo da reestruturação societária é a abertura de capital. Segundo o presidente da EDP Brasil, António Martins da Costa, a próxima etapa é transferir algumas ações que ainda ficaram de fora da holding. "Estamos organizando a casa para possibilitar a correta percepção do valor dos ativos do grupo no Brasil pelos acionistas e pelos mercados financeiros e de capitais", diz. Além da abertura de capital, a transferência dos ativos para a EDP Brasil permite que o financiamento de novos investimentos seja feito utilizando fontes com garantias locais, reduzindo a necessidade de recursos e garantias por parte da matriz.Em relação à possibilidade de que os acionistas minoritários das distribuidoras tenham a opção de trocar suas ações atuais nas empresas por papéis da holding, Martins disse que nada está definido. ""Os minoritários estão bem onde estão. No entanto, estudamos algumas alternativas e é possível que eles possam decidir onde querem estar.""Ainda dentro do processo de reestruturação societária no Brasil, a EDP segue negociando com a Petrobras a venda de parte de suas ações na termelétrica Fafen (BA), que fica dentro do pólo petroquímico de Camaçari. "As negociações estão caminhando em um ritmo não muito acelerado, mas vêm evoluindo", garantiu. A EDP tem 80% das ações da Fafen e a Petrobras outros 20%. Segundo o presidente da EDP Brasil, o motivo da venda é que, por ser uma usina localizada dentro do pólo da Petrobras, faz mais sentido que a própria estatal gerencie a térmica. A Fafen está gerando hoje 30 MW de energia e, a partir de fevereiro, atingirá a potência máxima instalada, com a geração de mais 100 MW.Em relação à Cerj, as negociações estão sendo tratadas diretamente entre as matrizes em Portugal (EDP) e na Espanha (Endesa). A participação da EDP na distribuidora, que era de 11,27%, já foi reduzida no ano passado por conta de um aumento de capital promovido pelos controladores da Cerj. "A EDP, que já vinha negociando com a Endesa, decidiu não acompanhar este aumento de capital e nossa participação foi reduzida para 7,7%", explica Martins.Programa do BNDESOutra decisão tomada neste início de ano pela EDP Brasil é a de que as distribuidoras do grupo não vão participar do programa de capitalização das empresas promovido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no valor de R$ 3 bilhões. Segundo Martins, o principal motivo é a situação financeira diferenciada das distribuidoras do grupo."Temos R$ 3 bilhões em dívidas de curto e longo prazo, para um ativo total de R$ 6,5 bilhões, o que nos coloca em uma posição muito confortável"", diz. Metade desta dívida, segundo o executivo, é em moeda estrangeira, mas conta com hedge - uma proteção contra grandes variações cambiais.Além de não ter necessidade imediata de recursos do banco, outro fator que desestimulou a EDP a ingressar no programa foram as condições impostas pelo BNDES. A principal delas é a necessidade de conversão de empréstimos entre controlada e controladora (os chamados mútuos) em aumento de capital."Além disso, como terão de ser dadas debêntures conversíveis em ações ao banco, como garantia pelo empréstimo, o BNDES acabaria se tornando sócio da EDP nas empresas"", destaca Martins. "Trata-se de um sócio como qualquer outro, muito respeitável, mas não faz parte da nossa estratégia termos o BNDES como sócio."Para 2004, a EDP Brasil prevê investir R$ 760 milhões, sendo que R$ 360 milhões serão destinados à construção da hidrelétrica de Peixe Angical, em parceria com a estatal Furnas, e o restante na manutenção de suas operações no País. Além da construção da usina, segundo Martins, o grupo não pensa em novas aquisições no País. "Enquanto não conhecermos em detalhes o novo modelo do setor elétrico, não dá para pensarmos em novos investimentos", diz. "Hoje, não sabemos nem mesmo o que é mais interessante, investir em geração ou em distribuição, o que impossibilita fazer qualquer novo investimentos".